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A Quinta da Penha Verde


A Quinta da Penha Verde situa-se na Estrada Nova da Rainha, em Sintra, e é unida à Quinta da Fonte dos Cedros por uma ponte.

A 17 de Outubro de 1982, durante mais de 6 horas terão caído pedras do céu sobre dezenas de pessoas, obrigando os caseiros a chamar a GNR e os Bombeiros, que também foram atingidos pelas pedras.   

Através do jornalista Vitor Mendanha e do fotógrafo Hermínio Clemente, o "Correio da Manhã" publicou uma extensa reportagem intitulada "Choveram pedras durante 6 horas sobre uma mulher", acompanhada de fotografias do local dos acontecimentos e de alguns dos protagonistas.

"Durante mais de seis horas caíram pedras do espaço sobre dezenas de pessoas idóneas na Quinta da Penha Verde em Sintra, obrigando os caseiros a chamarem a GNR e os bombeiros daquela vila, os quais também foram atingidos pelos calhaus, respondendo a tiros de rajada sobre inexistentes apedrejadores. Este caso, a que até os soldados da GNR não atribuem razão natural, deu-se no passado domingo e teve como principal intérprete Elvira da Conceição Teodoro, mulher do caseiro Avelino da Costa Gonçalves que cuida, desde há bastante tempo, daquela quinta ... pertencente à família Ernesto Rau...".

Declarou José Ribeiro, dos Bombeiros Voluntários de Sintra:

"Domingo à noite...a GNR veio cá ao quartel pedir o nosso gerador e projectores. Quando chegámos à Quinta da Penha Verde chovia pedrada por todo o lado e os guardas andavam ao tiro para o ar e para as moitas, julgando tratar-se de homens que os estavam a apedrejar...".

Acrescentou o jornalista:

"O bombeiro José Ribeiro era acompanhado por outros colegas, como os soldados da paz Joaquim António e Eduardo Silvestre, e começou a fazer pouco da cena, dizendo não acreditar em bruxarias, mas foi nessa altura que lhe aconteceu algo de insólito...."

"Mal disse que não acreditava que estivesse a chover pedras, veio um calhau na minha direcção e, se não me afasto, partia-me a cabeça. Ainda está a marca no portão, e o mais esquisito é que as pedras estavam quentes... Por mais que ela (a mulher do caseiro) fugisse, os projécteis iam lá ter. A certa altura a mulher veio para junto do jipe da GNR e as pedras começaram a cair nesse local. Achei então que vinham do outro mundo pois, mesmo as que acertavam nas outras pessoas, como aconteceu com guardas, não magoavam, mas as que caíam sobre o jipe deixavam marcas na chapa... ".

Prosseguiu o articulista:

"Era já noite cerrada e mais de vinte homens da GNR, vindos dos quartéis de Sintra, Algueirão e Colares, tentavam descobrir ainda a razão da chuva de pedregulhos, alguns deles com o volume duma mão fechada... Também veio um carro-canhão dos BVS para disparar milhares de litros de água... Como, apesar da madrugada ir alta, não cessava o apedrejamento, as forças da ordem e os bombeiros, impotentes para resolverem o problema, regressaram aos quartéis para voltarem no dia imediato, segunda-feira, pois o fenómeno continuou, só terminando quando Elvira da Conceição Teodoro e os filhos abandonaram a quinta para irem viver numa pequena casa perto de Queluz...

O fenómeno das pedras voadoras começou pelas sete horas, quando o caseiro Avelino Gonçalves ouviu bater algumas no portão.... Recorda-se de a primeira sessão de pedrada ter sucedido em Abril do ano passado quando cavava batatas ... No entanto desta vez foi demais e até os cães ganiram e fugiram....

O local é isolado, no sopé da serra, a meio caminho entre Sintra e Monserrate.... No posto da GNR conseguimos falar com alguns soldados que lutaram contra as pedras na noite e madrugada do passado domingo, disparando tiros e sendo alvejados por algumas. Um deles garantiu-nos: as pedradas vinham de todos os lados, sem barulho, e uma delas caiu-me no braço, sem me magoar, apesar de ser grande. Outra atingiu um camarada meu na cabeça ... e nem sequer o feriu... Desde que vigiassem a mulher do caseiro com a luz dos projectores, os calhaus deixavam de cair mas, mal tiravam a luz de onde ela se encontrava, também a chuva de pedradas regressava em força...

Havia que procurar a principal vítima do apedrejamento sem explicação natural e encontrámos Elvira da Conceição Teodoro num bairro pobre perto de Queluz, rodeada pelos seus filhos, todos menores ... Aparenta 35 anos mas sofre de epilepsia desde muito nova e a sua vida tem sido um inferno ... Elvira da Conceição Teodoro não entrou em contradição sobre o que aconteceu na Quinta da Penha Verde, sendo o seu depoimento precisamente idêntico ao do marido, ao dos bombeiros e ao dos guardas da GNR...".